Olá aluno ouvinte! Aqui é Ricardo Filgueira. Seja bem-vindo ao melhor podcast para aprender português e cultura brasileira.
E a inspiração do episódio desta semana foram minhas gavetas. Eu explico…
Na semana passada, eu precisei de uma receita médica do meu otorrino. Então, fui procurar na gaveta onde eu costumo guardar documentos, mas ela não estava lá.
No lugar da receita, o que eu achei foi um monte de papel inútil, notas fiscais antigas, vários objetos fora do lugar e outras bugigangas. E foi nesse momento que eu me dei conta de uma coisa: Quanta porcaria eu tenho nessa gaveta! Tá na hora de fazer uma arrumação nisso.
Então, olhei bem para aquela bagunça e me enchi de coragem: peguei sacolas plásticas e minha máscara cirúrgica para evitar piorar a sinusite que me persegue há um bom tempo.
Estiquei uma toalha de mesa no chão – como se fosse fazer um piquenique, sabe – despejei o conteúdo da gaveta e comecei a analisar a bagunça.
Nessa gaveta havia de tudo: cartões de visita, notas de supermercado, panfletos, extratos bancários, notas fiscais, comprovantes de pagamento, receitas médicas e outros itens.
Então, fui separando os papéis que tinham alguma importância daqueles que eram totalmente inúteis. A princípio, aquilo parecia interminável, nem me lembro direito quanto tempo gastei sentado no chão fazendo essa limpeza, mas passei tempo suficiente pra ficar com as pernas dormentes.
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Quando terminei a limpeza da gaveta de documentos, fiquei tão satisfeito com o resultado, que fui logo arrumar as gavetas de roupas. E novamente constatei que guardava o que não precisava. Separei roupas para uso diário, roupas para usar no inverno e algumas peças para doação.
Na manhã seguinte, o serviço continuou, só que dessa vez foram os livros que entraram na organização. E novamente coloquei uma máscara cirúrgica e comecei os trabalhos. Gente, eu precisei de quase dois dias só para arrumar essa parte. Entre os livros, eu encontrei material ainda do tempo que eu estava no curso de Letras, achei exames médicos de 2017, anotações de aulas e outros papéis sem utilidade.
Eu nem fazia ideia de quanta coisa desnecessária estava ali, só ocupando espaço e juntando poeira. A gente não se dá conta de quanta inutilidade tem até começar a analisar realmente o que precisa.
Pronto, o espírito do desapego e da doação tinham tomado conta da nossa casa. Chamei minha esposa para me ajudar a separar alguns itens, e todos os dias, durante quatro dias consecutivos, a gente organizava um espaço.
Decidimos doar tudo o que não nos servia: os livros foram para uma biblioteca pública, as roupas foram para o bazar de uma igreja perto de casa, alguns objetos foram doados para outras pessoas e aquilo que não pode ser aproveitado, foi para a reciclagem. Foi uma semana de desapego total!
E enquanto trabalhávamos na limpeza da casa, o tema principal de nossas conversas era a acumulação. Lembrei de um documentário que assisti na TV anos trás sobre pessoas acumuladoras e a imagem que ficou na minha cabeça é a de uma senhora obesa que mal conseguia se locomover dentro de casa devido à quantidade de lixo que ela tinha acumulado.
Lembro bem que os participantes do programa tinham outros problemas como depressão, obesidade, relações familiares conturbadas etc.
E como é comum neste tipo de programa, há sempre um especialista explicando os pormenores da situação. Nesse programa eu entendi que a síndrome da acumulação, também chamada de síndrome de Diógenes ou disposofobia é um transtorno psicológico comportamental.
Esse transtorno pode afetar todas as classes sociais e é mais comum em idosos, sendo que as mulheres são as mais afetadas.
Lendo um pouco mais sobre o assunto, descobri que em 2013 esse transtorno foi classificado como doença mental pelo Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais e que no mundo pelo menos 5% da população sofre disso.
As pessoas que sofrem dessa doença também têm ansiedade, tendências depressivas e problemas para se socializar. Criam vínculos emocionais com seus pertences e se desfazer dos objetos gera sofrimento, dor e até remorso.
Ainda segundo os especialistas, é importante estar atento a alguns comportamentos como: dificuldade de se desfazer de objetos inúteis, negligenciar a higiene pessoal e a limpeza da residência; acumular compulsivamente objetos; Isolamento social; Recusa a qualquer ajuda externa; Negação da realidade e falta de constrangimento em relação à condição de vida.
Olha, eu confesso que fiquei bem cansado depois de toda essa semana de arrumação, mas valeu a pena, foi muito bom, me sinto mais leve. Sabe, até parece que minha casa ficou maior.
Mas você acha que a arrumação terminou? Nan, nan não! Eu ainda tenho que verificar os documentos, arquivos, fotos do meu computador e do meu celular, afinal, não são apenas objetos que podem ser acumulados, concorda?
Ok, mas essa tarefa vai ficar pra outra semana. Bom, e você, quando vai arrumar as suas gavetas?
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Vocabulário
Otorrino: forma popular para otorrinolaringologista
Um monte de: a big amount of
Bugiganga: trinket; gizmo
Porcaria: da palavra “porco”. filth; garbage; trash; mess
Dar-se conta de: to realize; to note
Que me persegue há um bom tempo: that has been haunting me for a long time
Despejar: to spill; pour or throw out; to empty
Cartão de visita: business card
Panfleto: flyer; brochure
Comprovante de pagamento: proof of payment
Então, fui separando os papéis: So, I kept sorting the papers
Daqueles que eram totalmente inúteis: from those that were totally useless
Dormente: numb, daunting
Fui logo arrumar: I went straight to tidy up
Constatar: to note; to realise
Letras ou curso de Letras: a degree in Languages
Juntando poeira: gathering dust
Espírito do desapego: spirit of detachment
Tomar conta de: take hold of
Não pode ser aproveitado: it couldn’t be used
Mal conseguia se locomover: who could barely move; who could barely get around
Conturbado: turbulent; troublesome
5% da população sofre disso: 5% of the population suffer from it
Criam vínculos emocionais: create emotional bonds
Seus pertences: their belongings
Desfazer-se de: to get rid of
Gerar sofrimento: to create/cause suffering
Recusa a/de qualquer ajuda: refusal of any help
Falta de constrangimento: lack of embarrassment/constraint