Quando eu pergunto para um estrangeiro “por que você quer aprender português?”, não é raro eu receber a seguinte resposta: “Eu sou casado com uma brasileira e daqui a alguns meses eu vou visitar os parentes de minha esposa no Brasil. Como nenhum deles fala inglês, eu vou tentar aprender um pouco de português para eu não ficar tão perdido nas conversas entre família.”
Os estrangeiros que visitam o Brasil pela primeira vez ficam surpresos com o fato de que pouquíssimos brasileiros sabem falar inglês. E olha que eu nem estou falando de ser fluente, eu estou falando ter um conhecimento básico, tipo, inglês de sobrevivência.
Inglês é uma língua franca, é a língua da ciência, da tecnologia, dos portos e aeroportos. Cerca de 25% de toda a comunicação na internet é feita em inglês.
Se falar inglês é tão importante, então por que a maioria dos brasileiros não fala inglês? E quando eu digo maioria, digo quase a população inteira!
Segundo uma pesquisa feita pela British Council, apenas 5% dos brasileiros falam inglês. No Brasil, é raro você ir a uma farmácia, a uma padaria e encontrar algum funcionário que fale inglês, pelo menos o básico.
Você sabia que o Brasil é um dos países com um dos mais baixos níveis de fluência em língua inglesa no mundo? É o que diz o EF English Proficiency Index (Índice de Proficiência em Inglês), índice que classifica os países pelo nível de habilidades em inglês em todo o mundo.
Entre os países mais bem colocados estão: em terceiro, Noruega, em segundo Suécia e em primeiro lugar, Holanda. Para você ter uma ideia, estima-se que 93% da população holandesa sabe se comunicar bem em inglês.
O Brasil aparece entre os países com nível baixo de fluência, na quinquagésima nona posição, o que pra mim, é uma vergonha. Somos a maior economia da América do Latina, mas perdemos para Uruguay (39), Chile, Cuba Paraguai e Argentina, e esse último é o país com a melhor posição (27), é o único país da América Latina com classificação alta.
Mas o que faz o brasileiro ser tão ruim quando o assunto é falar inglês? Existem várias razões para isso, a principal é a educação pública de péssima qualidade. O Brasil tem aproximadamente 11 milhões de analfabetos, 6,8% das pessoas acima dos 15 anos que não sabem ler ou escrever. Além disso, 30% dos brasileiros entre 16 e 64 anos são analfabetos funcionais.
Sete de cada dez alunos do 3º ano do ensino médio têm nível insuficiente em português e matemática. Entre os estudantes dessa etapa de ensino, menos de 4% têm conhecimento adequado nessas disciplinas. Pelos números, dá pra perceber que educação não é uma prioridade por aqui. Agora, imagine, se as matérias essenciais têm um rendimento tão medíocre, o que esperar do ensino de língua estrangeira?
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Nas escolas públicas e privadas o ensino de inglês é uma catástrofe, e eu sei muito bem do que eu estou falando. Eu já ensinei inglês para crianças do ensino fundamental menor, maior e médio, tanto em escolas públicas quanto em privadas. Era muito frustrante… e isso foi um dos motivos que me levavam a desistir de ser professor do sistema educacional brasileiro.
Os alunos não levam a sério o aprendizado de uma língua estrangeira. A grande maioria vê inglês ou espanhol como mais uma disciplina chata, que só precisa de notas para passar de ano, só isso.
Boa parte dessa apatia em relação ao estudo de língua estrangeira se deve também ao fato da forma como a disciplina é ensinada. O currículo é focado em gramática, do ensino fundamental, passando pelo ensino médio, até o ensino universitário! Ninguém é incentivado a se comunicar, a usar o idioma, tudo se limita a saber gramática para passar de ano ou no Enem.
Nem no curso de Letras acontece diferente, o inglês ensinado na universidade reproduz o mesmo erro, gramática, gramática e pouquíssima conversação. A minha sorte é que eu já havia estudado alguns anos atrás numa escola de inglês.
Veja o quanto isso é grave! As pessoas formadas em Letras recebem um diploma que lhes possibilita ensinar inglês, mas se você colocá-las para conversar com um falante de língua inglesa, esses futuros professores não conseguem manter um diálogo simples por mais de 3 minutos. E são esses professores que vão “ensinar” na rede pública e privada.
Se ninguém aprende inglês no ensino regular, então a saída é aprender numa escola de idiomas, certo? Errado! No Brasil, dificilmente você aprenderá a se comunicar bem em inglês frequentando uma escola de idiomas, são raras as escolas brasileiras que conseguem tal proeza, os motivos disso são basicamente, três: abordagem, frequência e exposição ao idioma.
Abordagem. O aluno participa de forma passiva, apenas recebendo instruções gramaticais e reproduzindo alguns diálogos dos livros, há pouca oportunidade para a comunicação em si, para conversação.
Frequência. No máximo, os alunos vão à escola 3 vezes por semana, em aulas que duram em média 1h e meia. Detalhe, você ainda tem que dividir a atenção do professor com outros alunos, no mínimo 5.
Exposição. E depois do estudo em sala de aula, o contato com o idioma é bastante reduzido, e se resume a fazer atividades do livro de exercícios.
Ao meu ver, o ideal seria o aluno fazer em cada semestre um curso intensivo de 3h por dia, 5 vezes por semana e numa turma de no máximo 6 alunos, e claro, todos com mais ou menos o mesmo nível de conhecimento.
Mas isso custa caro, portanto, é para poucos. É por esse motivo que às vezes é mais vantajoso fazer um intercâmbio de 5 meses na Irlanda do que fazer 5 meses de um curso intensivo no Brasil. Você paga um pouco a mais, no entanto, terá melhores resultados e ainda terá uma vivência no exterior. E isso, não tem preço!
Agora que você conhece um pouco da realidade do ensino de inglês no Brasil, é hora de aprender com que está no topo: A Holanda. Por que os holandeses são tão bons em inglês?
Primeiro, há uma correlação direta entre as habilidades em inglês e o desempenho econômico do país.
A Holanda possui o 17° maior PIB do mundo, e o 7° entre os países europeus. É uma grande produtora de matérias-primas, exportadora de máquinas, peças, gás, além de ser sede de grandes empresas como Unilever, Shell, Philips e Heineken. Foi lá onde surgiu a primeira multinacional – a Companhia Holandesa das Índias Orientais, e também foi berço da primeira bolsa de valores moderna.
O turismo também contribui para o país ter alto nível de fluência em língua inglesa. A Holanda é o destino de vários turistas que estão a passeio pela Europa. E com o grande fluxo de turistas, a comunicação principal é em inglês, impulsionando o uso da língua a todo momento.
A Holanda é também a escolha de muitos estudantes de intercâmbio, sem se preocupar com a comunicação. Muitas universidades adotam o inglês como língua oficial da instituição, ou seja, é muito difícil você ter aulas em holandês.
Inclusive, quem vai para lá estudar a língua local encontra mais dificuldade de ter uma experiência de imersão completa exatamente por conta da grande quantidade de falantes de inglês. No Brasil, acontece exatamente o contrário, se o falante de língua inglesa quiser interagir com brasileiros, ele forçado a aprender português, nem que seja o básico do básico.
Além disso, na Holanda, as crianças são expostas ao inglês desde cedo, seja na escola ou em casa, já que boa parte dos programas de TV em língua inglesa não são dublados exatamente para estimular o aprendizado. E quanto mais contato você tiver com o idioma, mais rápido e fácil será o aprendizado.
Contrastando as realidades do Brasil e da Holanda, fica mais fácil de entender por que o brasileiro tem tanta dificuldade para aprender inglês.
A solução para esse e outros vários problemas do Brasil é óbvia: investir em educação de qualidade para todos, só assim o país será mais desenvolvido e competitivo.
E aqui termina mais um episódio do Brasil Com Ricardo. Obrigado por me dar ouvidos.
Até a próxima. Tchau!
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Vocabulário
Pouquíssimos brasileiros: very few Brazilians
Cerca de: about
Analfabetos funcionais: functional illiterates
Ensino médio: high school
Disciplina: subject
Matéria: disciplina
Rendimento: performance; revenue, income
Ensino fundamental: elementary school
Alunos não levam a sério: students don’t take seriously
Passar de ano: to move on to the next grade
Se deve também ao fato da forma como a disciplina é ensinada: also due to the fact that the discipline is taught
Enem: O Exame Nacional do Ensino Médio é uma prova para avaliar a qualidade do ensino médio no país. Seu resultado serve para acesso ao ensino superior em universidades públicas brasileiras.
Tal proeza: such a feat
A comunicação em si: the communication itself
Berço da primeira bolsa de valores moderna: birthplace of the first modern stock exchange
Seja na escola ou em casa: whether at school or at home